quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O assunto e o argumento, segundo Kiarostamii

Ten on Ten (2004), Abbas Kiarostami

O argumento:
«Eu não costumo escrever os meus guiões da maneira como habitualmente são escritos os argumentos. A minha primeira ideia sobre uma intriga não é mais do que meia página. Depois desenvolvo isto para 3 páginas, e por essa altura sei se o filme pode ser feito. E tomo a minha decisão sobre se o filme pode ser feito com base nestas 3 páginas. É claro que não era assim no início da minha carreira. Só faço isto desde que já não tenho que submeter um argumento a um produtor ou ao Ministério da Cultura. Agora, tanto um como o outro sabem já que é praticamente impossível para mim manter-me fiel ao argumento escrito. Eu só me mantenho fiel à ideia original do filme. Mas mesmo disso não posso ter a certeza.»

«Se dermos diálogos escritos a não-actores, eles acabam por dizê-los palavra a palavra, e se isso acontecer os não-actores tornam-se verdadeiros actores. Mas para este tipo de filme, não-actores devem permanecer não-actores. Outra coisa importante é que quando escrevemos, cuidamos a gramática. Mas a língua falada nem sempre segue as regras de gramática. As regras de gramática devem ser quebradas. Isto produz diálogos naturais de acordo com a cultura da pessoa que fala. Como disse, não escrevo argumentos exactos. É no processo de filmagem e produção que as alterações diárias vão gradualmente modelando o filme. E o argumento toma forma à medida que o filme vai sendo feito.»

Ten on Ten (2004), Abbas Kiarostami

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Ten (2002), Abbas Kiarostami




O assunto:

«O assunto de Ten é baseado na vida do dia-a-dia. Certamente muitos espectadores sérios e vários críticos acharão que o assunto é aborrecido. Não surpreende que o cinema esteja cativo da necessidade natural de contar histórias. Nós estamos acostumados, ou fomos acostumados, a só aceitar a realidade dentro do quadro de uma história, de forma que seja excitante ou comovente. Este é o velho estilo de narração usado por Sherezade nos seus contos para o rei que costumava matar os convidados. Mas eu não acredito que o trabalho de cineasta seja excitar ou comover o espectador, só para criar momentos especiais. Mostrar simplesmente a realidade pode fazer as pessoas pensarem nos seus próprios actos e comportamentos e nos dos outros. E ver e aceitar a realidade como ela é. (...) Esta é a principal diferença entre este tipo de cinema e o de Hollywood. Neste tipo de cinema o assunto mais importante é: os seres humanos e suas almas.»

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