Laurel & Hardy:
Pick a Star (1937), Edward Sedgwick
«O filme burlesco (como a comédia, o filme paródico e o filme de humor) pertence à grande família do cinema cómico que procura divertir o público utilizando as armas do riso ou do sorriso. Se a comédia procura divertir pela pintura dos costumes e dos caracteres numa perspectiva realista, o burlesco alimenta-se de efeitos cómicos inesperados e fulgurantes (gags), que inseridos subrepticiamente na narrativa criam um universo absurdo e irracional. A fronteira entre os géneros é frequentemente incerta, já que a comédia não proíbe os gags.
O termo burlesco foi utilizado, na sua acepção cinematográfica, desde os anos 1910, pelos americanos que o tomaram emprestado ao music-hall britânico. Também usam o termo slapstick (golpe de pau), já que a paulada, junto com a queda corporal e o arremesso de tartes de creme, constituem os emblemas deste género.»
in Pinel, Vincent. Écoles, Genres et Mouvements au Cinéma. Paris: Larousse, 2000.
« Burlesco: Termo proveniente do latim burrula, dim. burra (brincadeira, burla, farsa); em italiano burla, burlesco (burla, mofa); em francês burlesque.
Como género literário, o burlesco, originalmente, consistia na paródia de textos clássicos de assunto sério, como as epopeias, tratados de forma zombeteira, utilizando uma linguagem exagerada que tinha como finalidade ridicularizar o texto. O contrário também servia de motivo ao burlesco, ou seja, tratar um assunto de menor importância com a gravidade de um assunto solene, utilizando um estilo elevado.
Quer a sátira quer o burlesco implicam uma visão mais ou menos crítica da realidade social. No entanto, o que as distingue é o facto de na sátira o autor incluir-se no sistema de valores da ideologia dominante criticando o que fôr contrário a essa ideologia e o autor burlesco encontrar-se fora desse mesmo sistema, contrapondo um sistema de valores inversos (antivalores) que exalta proclamando a sua superioridade. O burlesco torna-se mais tolerável do que a sátira uma vez que o seu exagero, a distorção de sentidos, o carácter paródico, a falta de um discurso político ou moralizador, o tornam aparentemente mais inofensivo.
O conceito de burlesco está bastante próximo do conceito de carnavalesco (Bakhtine) e aparenta-se com a paródia na medida em que vulgariza o que é sublime.»